sexta-feira, 20 de fevereiro de 2009

Reajuste, reajustagem ou politicagem?!

A imprensa escrita daqui de Juiz de Fora dedicou ontem as manchetes de suas publicações ao aumento (abusivo) da tarifa pelo fornecimento de água na cidade. Salvo engano de memória, é um aumento na casa dos 16%, maior, portanto, que o percentual aumentado no salário mínimo.

O que me assusta, além do percentual, é a cara de pau desse povo. Já não lhes parece suficiente que a população pague a taxa por coleta de esgoto (que nem chega a ser tratado) no mesmo valor que a do fornecimento de água?!

Possivelmente será assim, pelo aumento de taxas de serviços básicos (e essenciais), além claro do aumento do IPTU e das taxas para emissão de alvará e outras documentações...; que a Prefeitura sairá do vermelho. Pelo menos uma coisa é boa: eles não pretendem aumentar a passagem de ônibus: os estudantes terão temas mais originais para seus manifestos.

terça-feira, 17 de fevereiro de 2009

Diferentes visões da chuva

Meu dileto amigo Danilo, em postagem no seu blog (http://objetoachado.blogspot.com), trata também do tema das chuvas - aqui comentado em duas ocasiões.

Mas ele, embalado por amores e felicidades, vê o espetáculo com mais cores e menos desilusões que eu. E estou aqui pensando: qual é a chuva que de fato existe? Essa, cálida e afetuosa, que molha os apaixonados que saem justamente pra esse banho a dois ou a outra, dura e implacável, que arrasta tudo e todos na enxurrada?! Qual delas?!

Talvez existam as duas. Mas o ideal era que nós víssemos apenas a primeira. A natureza devia ser mãe (como de fato foi por muito tempo) e brindar-nos com seus espetáculos e suas benesses.

Mas não. Hoje a natureza é uma madrasta (ou mesmo um pai rigoroso) e castiga os homens pela sua inconsequência. As águas não fecham apenas o verão. Por falta de investimentos públicos, elas fecham ruas, túneis, casas nas encostas. Temos muitos Zelões por aí. Hasta quando?!

Assistência religiosa

Por detrás dessa expressão enorme, se esconde um ato simples: estender a mão a quem precisa. Mas a mão deveria estender-se sozinha, sem que nenhuma outra parte do corpo a acompanhasse. Estender a mão deveria se limitar a isso. Porém, além da mão, estendemos também o olhar. Queremos mesmo assistir, reparar.

E, à visão de tantas dores alheias, sente-se vergonha das nossas reclamações e lamúrias... Nossas pequenas pelejas cotidianas. Não temos problema algum. Pelo menos nenhum de tal gravidade que nos imobilize numa cama. Ainda sob os efeitos de uma assistência dada ontem, escrevi o seguinte poema, intitulado "Horas de dor":

Eram tantos relógios, cada um com seu passo
todos a marcar uma mesma hora.
Eram tantos relógios, e uma sensação enorme de atraso.
Eram tantos relógios, mas quanta demora!

Tantos relógios a tiquetaquear.
Tantos. Que algaravia!
E no entanto é longa a noite.
Essa paciente acaso verá o dia?

Dor, a pobre tem espamos de dor. E chora.
Tudo lhe dói. Tudo.
Dói, dói, dói, dói, dói...
Doze badaladas doloridas, longas, sofridas
doze vezes a relembrança da vidraça partida.

As pessoas passam na rua,
Ela revê os estilhaços na pele sua.
E, à dor física, junta-se esse medo da morte.

"Cansei de sofrer dor", ela me diz,
e ali estão os ponteiros por testemunha.
E fazem também o papel de algoz. E o de juiz.
Insensíveis ao drama que se desenrola,
eles apenas prenunciam má sorte:
Dói, dói, dói, dói, dói...


Crédito da imagem: http://www.kurya.com.br/?edicao_num=234&i=noticias/edicoes.php

sexta-feira, 13 de fevereiro de 2009

Chuvas de verão II

À parte eventuais brincadeiras como a instituição do "ratobol" como novo esporte nacional, a situação das chuvas é de fato preocupante.

Aí, remexendo antiguidades musicais, decidi trazer para aqui trechos de duas canções que tratam desse tema de modo mais próximo ao que estou sentindo: desolação... Ei-las:

Zelão (Sérgio Ricardo)

(...) Choveu... Choveu
A chuva jogou seu barraco no chão
Nem foi possível salvar violão
Que acompanhou morro abaixo a canção
Das coisas todas que a chuva levou
Pedaços tristes do seu coração

Mas todo o morro entendeu quando Zelão chorou
Ninguém riu, ninguém brincou e era carnaval

Agüenta a Mão, João (Adoniran Barbosa / Hervé Clodovil)

Não reclama
Contra o temporal
Que derrubou teu barracão
Não reclama
Güenta a mão João
Com o Cibide
Aconteceu coisa pior

Não reclama
Pois a chuva
Só levou a tua cama
Não reclama
Güenta a mão João

segunda-feira, 9 de fevereiro de 2009

Chuvas de verão

Antes, quando eu ouvia "Águas de Março", com Elis & Tom, chegava a acreditar que há beleza e sentido no espetáculo das chuvas de verão. Mas, a cada dia, essa sensação antiga e de apreciação artística vai sendo relegada a um segundo plano.

Porque, hoje, na maioria das cidades chuva é sinônimo de caos e confusão. Não vou aqui me deter na situação das casas construídas em local irregular, do lixo nas ruas, do desmatamento de encostas. Nem quero também jogar a culpa para cima da Defesa Civil, que se enrola com atender variados chamados em locais os mais diversos. Além, claro, dos trotes. Não; nada disso me importa agora. Num primeiro momento quero me ater à situação do trânsito aqui em minha cidade: Juiz de Fora.

Juntemos uma frota cada vez maior de carros; crianças saindo da escola, trabalhadores (sa)indo do (ou para o) trabalho, ônibus urbanos lotados, etc. e tal. Já teríamos com isso suficientes motivos para uma confusão generalizada em nossas ruas estreitas e mal planejadas onde veículos, pedestres e ambulantes dividem mal e mal um espaço precário.

Mas, como é possível piorar ainda um pouco mais, para o recheio deste bolo de horrores, acrescentemos muita água caindo do céu, ruas alagadas e intransitáveis: aí sim temos caos, buzinaço e engarrafamentos. Além de ônibus atrasados, gente estressada e roubos oportunistas.

Sexta-feira, dia 06 de fevereiro, São Pedro decidiu faxinar o andar de cima e, conseqüência óbvia, mandou o aguaceiro aqui para baixo. Foram mais de noventa minutos de trovoadas e picos de luz. E água caindo. As pessoas se espremendo nas marquises, os carros em marcha lenta, táxis disputados a tapa. E água caindo.

O bacana, penso eu, é o espírito criativo dos brasileiros. No meio de tantos transtornos conseguiu-se inventar uma nova modalidade esportiva: o "ratobol". Funciona assim: quando os roedores saem das bocas de lobo entupidas, os homens os chutam com força e as mulheres gritam (estão torcendo ou estão assustadas??!). Ainda não criaram traves nos pontos de ônibus e nem juízes, mas já se recolheu uma meia dúzia de assinaturas para pedir a legalização do esporte. Aguardemos.

Créditos da imagem: Elis Regina e Tom Jobim, artistas citados no início do post, em foto tirada possivelmente em 1974, época em que gravaram um antológico disco juntos. Fonte aqui: www.antoniocarlosjobim.org

terça-feira, 3 de fevereiro de 2009

Frases feitas

Hoje foi um dia algo diferente para mim em termos profissionais: saí do confinamento do escritório na parte da manhã para visitar clientes. Atividade pouco usual, mas da qual não pude esquivar-me.

O que primeiro chamou a minha atenção foi uma estranha sensação de deslocamento ao (re)conhecer de perto, ao vivo, determinados lugares e pessoas que, até então, eram apenas vozes ao telefone e nomes no sistema de lançamentos.

Mas fiquei cismado mesmo foi com uma padaria de bairro que visitamos. Estava vazia, pelo adiantado da hora. Viam-se doces, confeitos, pães e bolos. Uma ou outra mosca voando no ar quente de quase meio-dia. Tudo normal. O problema é a minha mania de sempre ler tudo.

E, percorrendo as paredes com os olhos, vi algumas frases feitas. Tipo: "a inveja é como o sapo, tem olhos grandes e vive na lama." Estou pensando: será que a lama não estaria posta para aqueles que tanto se preocupam com a opinião alheia?! E ainda: será que esse tipo de frase, pregada na parede atrás do balcão, impediria a influência de hipotéticos maus fluidos que atingem quem neles acredita?!

Honestamente que não sei; nunca me preocupei com esse tipo de coisa. O que de fato é preocupante é essa decoração de frases feitas que vários estabelecimentos por esse mundo afora exibem e que deixam claro uma falta do que dizer.

Créditos da imagem: Ilustração de Mário Pinto no livro "As Fábulas de La Fontaine", 3 vol., Ed. Pedagógica Brasileira, SP, s/d, pág. 122 - com comentários de José Arruda Penteado. Fonte aqui: http://www.brasilcult.pro.br/historia/historia.htm.