sexta-feira, 25 de dezembro de 2009

Mancadas e milagres

Ontem, 24 de dezembro, véspera de Natal, me acidentei em casa. Trabalhei durante um ano e meio em indústrias e nunca me aconteceu nada grave. No entanto, aqui em casa que é um local aparentemente inofensivo, eu quase me ceguei.

É que eu estava colocando no lugar as dobradiças de um guarda-roupa quando a chave de fenda escapou do parafuso e acertou meu olho. Foi uma dor lancinante e até pensei por um minuto que tinha perdido a visão, enquanto lavava o sangue dos olhos.

Milagrosamente, porém, não aconteceu nada além de um arranhão. Tanto que aqui estou escrevendo... Quer dizer, no meu modo de ver foi um milagre. Meu pai, homem nervoso por natureza, apenas me disse: "Como você me dá uma mancada dessas de deixar a chave entrar no seu olho?" Diante de tão díspares pontos de vista, comecei a esboçar um poema:

Quase

Estava tudo em seu lugar determinado:
o parafuso no seu curso, a chave na fenda.
e minha mão no cabo.

Mas, num movimento desajeitado,
forçou-se um tal desvio
que depois dele foi tudo dor e desvario.

Corro a lavar-me, com medo de estar cego
lavo-me, desesperado, e, por sorte, ainda enxergo.
Me encho de um regozijo, me alegro.

Mas isto dura apenas um momento,
até que ouço que a culpa é minha,
por descuidado que sou e desatento.

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