sexta-feira, 30 de janeiro de 2009

Globalização?!

José Saramago, no que considero ser uma de suas melhores páginas, assim define o caráter corruptível do ser humano:

"De cada vez, sabemos, foi o homem comprado e vendido. Cada século teve o seu dinheiro, cada reino o seu homem para comprar e vender por morabitinos, marcos de ouro e prata, reais, dobras, cruzados, réis, e dobrões, e florins de fora. Volátil metal vário, aéreo como o espírito da flor ou o espírito do vinho: o dinheiro sobe, só para subir tem asas, não para descer. O lugar do dinheiro é um céu, um alto lugar onde os santos mudam de nome quando vem a ter de ser (...)”.

E de fato assim é.

Dia desses, sentado na cozinha de casa lendo a correspondência, escutei tocar um samba na televisão - invariavelmente ligada com som alto - e me levantei para olhar. E com que surpresa eu vi vendido o talento de um (bom(?)) sambista que se contentava em fazer rimas pobres com os nomes de programas da emissora antes toda-poderosa.

Digo antes porque, apesar desse golpe publicitário de jogar com as palavras e insinuar que a globalização é o ato de assistir à TV Globo, sabemos que a mídia televisiva cada vez atrai menos o brasileiro. A qualidade da programação é cada vez pior e, na medida das suas posses, cada família prefere os canais fechados ou a internet. Ou mesmo assistir dvd’s pirateados comprados na feirinha da esquina.

Eu estaria sendo idealista se desejasse que essa gente trocasse a televisão pela leitura? Livros trazem muito mais conteúdo que, por exemplo, os “grandes irmãos” e têm a vantagem de nos tirar deste mundo pretensamente globalizado e nos levar a reinos mais lógicos, justos e sem falsas verdades.

Marcas

Não pretendo aqui falar daquele nome distintivo de um produto que, muitas vezes, serve apenas para aumentar o seu preço e nos obrigar a uma publicidade gratuita. Gratuita? Não. Adquirir coisas de determinadas marcas dá à pessoa um status quo que é muito valorizado pela sociedade de aparências de hoje. Mas, não é a isso que quero me referir.

Tampouco está entre as minhas intenções falar de cicatrizes e arranhões: marcas que a "vida" costuma nos legar quando andamos por aí às tontas a esbarrar com os objetos. São marcas mais comuns na infância e não estou aqui para falar de crianças. E não é ainda esse tipo de marca que me interessa.

O que, de fato, me interessa é a "marca" que cada pessoa deixa (ou pretende deixar) no mundo. Porque em geral as pessoas vivem suas vidas medianamente, fazendo por onde não serem esquecidas apenas pelos seus familiares e amigos próximos. Mas há aquelas que, movidas por algum impulso meio misterioso, decidem que querem ser lembradas por alguém mais, pela humanidade toda se possível. Ainda que seja lembrança fugaz como as luzes das câmeras dos noticiários.

É isso que nos leva a ver, por exemplo, um bando de gente banal a dizer-se "grandes irmãos" por aí. Também por isso que vejo, com tristeza, pixações numa ponte recém pintada aqui de minha cidade. Será que o cidadão que fez isso pensa ser essa a melhor marca que ele pode deixar no mundo?

Eu gostaria de gente que deixasse marcas melhores e mais dignas. Que não se preocupassem em ser notadas apenas em caráter de exceção. Porque, como está na Bíblia, no final haverá escândalo, mas ai daquele por quem vier o escândalo.

Crédito da imagem: http://www.pichacao.com/