segunda-feira, 29 de junho de 2009

Fausto Silva, Patrícia Poeta e a TV brasileira

Ontem eu sentei na sala para assistir o finalzinho do "Domingão do Faustão", coisa rara de acontecer. Todavia, meu lado sádico pedia que eu risse um pouco com as repetidas cassetadas, que, apesar de tudo, poderiam salvar o finalzinho de um domingo que passei brincando com um primo de 04 anos de idade.

E eis que ocorreu o improvável: no meio do programa o apresentador pede desculpas à mocinha que agora comanda o Fantástico por ter, no domingo anterior, dito que ela poderia esperar um pouco mais para fazer a chamada do noticiário, já que esperara nove meses para nascer.

Podem discordar de mim, mas eu acho que ele não devia ter pedido desculpas a ela. Primeiro porque uma das poucas coisas que salvam o programa dele são os raros momentos em que, desbocado, Faustão mostra as falhas de sua produção e expõe um lado menos glamuroso da TV brasileira. E, segundo, porque ele está com a razão. A Patrícia Poeta poderia perfeitamente fazer a chamada durante os comerciais. Agora, há aí uma malandra jogada: se ela divulga as (não)notícias durante o programa de seu colega de emissora; os comerciais serão mais largos para os anunciantes. E são os anunciantes que pagam tudo e todos.

E já que falei em anunciantes (e conseqüentemente em valores), os programas de fofocas tiveram bastante sobre o quê falar com a guerra entre SBT e Record, que tomaram profissionais uma da outra em transações de valor inimaginável para os pais de família que, sem opções, se contentam com receber R$ 465,00 mensais. Ah sim, e se contentam com assistir aos programas da TV aberta nos horários vagos.

A questão é: se na Toda-poderosa Rede Globo há problemas e imposição de "agentes externos", como esse que ocorreu entre o Fausto e a Patrícia, que esperar dessas outras emissoras? E, além disso: o que garante que Gugu será menos chato na Record?

terça-feira, 23 de junho de 2009

Festas juninas: como manter a tradição, se tudo aponta para a ruptura?!

Ontem desci da faculdade comentando com um amigo sobre a aculturação que a mídia de massa promove em nosso país e da perda de nossas tradições. Inevitavelmente, começamos a elencar exemplos e um deles, talvez o mais contundente nessa época do ano, é a invasão das festas juninas pela música (?) "country".

E hoje pela manhã, lendo o jornal, descobri - com pesar - que o Ecad (Escritório Central de Arrecadação e Distribuição) está acrescentando um ingrediente extra na mistura. E não é o "elemento X"... Trata-se de uma descabida cobrança, imposta às escolas, pela execução de músicas do nosso cancioneiro popular durante as comemorações juninas, julinas e por vezes agostinas que fazem a alegria de muita criança por aí.

Ora, por mais que se queira promover o pagamento ao artista, não me parece sensato esquecer que essa pressão colocada sobre as escolas contribui (e muito) para a abertura de espaço para esse gingar mecanizado que nada tem que ver com nossos folguedos multicoloridos e felizes!

quarta-feira, 17 de junho de 2009

A Índia simplificada

Confesso que tem me incomodado um pouco a trama global das 21 horas. Não, eu não assisto (des)"Caminho das Índias", até porque nesse horário estou na sala de aula tentando me habilitar em Letras.

No entanto, não estou imune a ouvir os constantes comentários (vazios) das pessoas na rua, no ônibus e mesmo no meu local de trabalho. O que irrita é que a novela de Glória Perez pouco ou nada traz de novo (e, pior, de verdadeiro) para quem conhece minimamente a cultura hindu.

A Índia NÃO se resume a uma sucessão de danças e macaqueamentos que visam somente promover uma meia dúzia de escolas de dança no eixo Rio-São Paulo. Tampouco se resume a duas castas que passam a vida a digladiar entre si. Mas, como exigir das pessoas, do público médio (para não dizer medíocre), algum grau de consciência crítica?!

terça-feira, 16 de junho de 2009

O léxico dos "letreiros" II

Ontem apresentaram na aula de Literatura Brasileira uma pequena versão do dicionário Houaiss da Língua Portuguesa, ao interromper variadas vezes (contei pelo menos quinze...) a análise do "romance" Navio Negreiro para explicar à turma o que é cantilena, langor, dolente e, pasmem, chacal.

Algumas pessoas não sabiam que este é um mamífero conhecido por comer carniça. Eu acho que isso se deve ao fato de que "narciso acha feio o que não é espelho", ainda que nesse caso tenha muito chacal se fazendo de desentendido...

Crédito da imagem: http://www.seucachorro.com/chacal/

segunda-feira, 15 de junho de 2009

Em que a fala impede a ação?!

Recebi hoje pela manhã uma indireta no grupo de discussões que a turma de faculdade mantém no site do Yahoo. Acusavam-me de falar demais e, com isso, impedir a ação das pessoas que estão realmente interessadas em resolver um impasse criado em torno da distribuição de livros arrecadados no trote solidário do ano passado.

Eu poderia ter feito vista grossa e fingir que a indireta era para outra pessoa qualquer. O problema é que eu nunca tive vocação para capacho e dificilmente levo desaforo para casa. Principalmente se o desaforo não tem razão de ser, como é o caso.

Sejamos honestos: a fala de uma única pessoa pode ser tão forte ao ponto imobilizar as demais? Detalhe: não se trata de uma fala proibitiva. Não. Trata-se de uma fala irônica que tem como princípio provocar alguma reação.

Agora, se por reação as pessoas entendem encolher-se dentro da concha, anular-se, inibir-se, ... se o entendimento é esse, então concordo que a fala impede a ação. Do contrário, o que falta aos colegas é força de vontade e animAção.

sábado, 6 de junho de 2009

Que livro você é?!

Febre na internet, o teste contido neste link http://educarparacrescer.abril.uol.com.br/leitura/testes/livro-nacional.shtml informa às pessoas quais livros de Literatura Brasileira elas seriam.

Pelo que pude apurar no orkut, a maioria das pessoas está para ser livros de Paulo Coelho, Martha Medeiros e Roberto Shinyashiki... Nada contra os autores, mas é uma pena ver que a população se pauta apenas pelos critérios médios e acaba por responder ao teste de maneira sempre igual e a obter sempre o mesmo resultado.

Mas o que me assustou de verdade foi ver pessoas que declaradamente detestam a literatura nacional se gabarem do resultado apontar clássicos como "Memórias Póstumas de Brás Cubas" e "A paixão segundo GH". Essa distinção é preocupante porque reforça um preconceito, mesmo por parte de quem é alheio ao tema.

Créditos da imagem: Capa da 1ª edição do romance "A paixão segundo GH". Fonte aqui: http://www.estantevirtual.com.br/.

sexta-feira, 5 de junho de 2009

Irritação

Como dizer às pessoas que nós não queremos que elas mexam no nosso serviço?! Essa tem sido a minha dúvida mais freqüente durante essa semana. Claro que eu poderia simplesmente chegar e dizer. Mas não quero ser grosseiro e dar mais motivos a que me critiquem. Ainda que as pessoas não percebam em si nenhum defeito e sua crítica seja somente motivada pelo desejo de ferir o ego do superior hierárquico, como a querer com isso desqualificar a pessoa que atingiu uma posição de comando. Qualquer que ela seja.

O problema de se assumir um posto minimamente relevante em um escritório é exatamente esse: fica-se com vários papéis acumulados em cima da mesa, resolvendo pendências alheias que dependem (dependem???) do seu aval e enquanto isso os "colegas" - que aguardam que você termine de liberar o serviço deles - ficam sentados a dar palpites sobre quando e como fazer o seu serviço.

O perigo, porém, desse eterno remoer sentimentos é o de um dia, hoje por exemplo, eu acabar me descontrolando e enderaçando críticas reais que, sei, vão ser muito piores que os comentários que eu escuto. Aí será tarde.

quinta-feira, 4 de junho de 2009

Uma reflexão sobre “A Igreja do Diabo”, de Machado de Assis

            O conto A Igreja do Diabo, coligido por Machado de Assis na coletânea “Histórias sem data”, de 1884, ainda hoje parece confirmar a afirmação do filósofo: “o homem é a medida de todas as coisas”.
            O próprio Machado diz, na advertência da obra, que a maioria dos trabalhos nela reunidos tem data, mas que a suposição de que seu objetivo seja “definir estas páginas como tratando, em substância, de coisas que não são especialmente do dia, ou de um certo dia” permite entender o título que ele atribui. Ou seja, o título da coletânea se justifica com o fato de tratar-se de histórias sobre coisas de todos os tempos. E que há de mais antigo no mundo, porém ainda atual, que o duelo entre o Bem e o Mal?
            No conto em questão, o Diabo considera a possibilidade de fundar uma Igreja que combata todas as outras doutrinas existentes, partindo da premissa de que “há muitos modos de afirmar; há só um de negar tudo”.  Decidido, ele procura Deus e comunica desafiadoramente seu objetivo.
            Uma vez estabelecida, a nova igreja arrebata todos os fiéis de suas rivais com uma pregação que os incita à prática dos chamados pecados capitais: gula, inveja, avareza... O grande problema é que, depois de algum tempo, a quantidade de adeptos entra a diminuir.
            Sem “refletir, comparar e concluir do espetáculo presente alguma coisa análoga ao passado”; Lúcifer retorna à presença do Criador para questioná-lo sobre o porquê desse acontecimento. O Altíssimo calmamente lhe explica que a “eterna contradição humana” é a responsável pelo fenômeno.
            Esta contradição costuma ser explorada com freqüência nos escritos machadianos, como no conto Entre santos, publicado no volume “Várias Histórias”. Neste outro texto, um dos santos (Francisco de Sales) afirma: “Os homens não são piores do que eram em outros séculos; descontemos o que há neles ruim, e ficará muita cousa boa”.
            Quer nos parecer que esta relativização das certezas, tão destoante do cientificismo do século XIX, esta consideração da volubilidade do caráter do ser humano, perceptível nesses dois textos em que o autor se apropria de personagens da seara da religião, constitui ponto de particular interesse mesmo agora.
         Neste início de século XXI, quando o fundamentalismo religioso e ideológico quase sempre nos encaminha para a intolerância e a luta armada, talvez seja oportuno reler Machado de Assis. Depois de ler a obra do Bruxo do Cosme Velho nos fica a pergunta: por que esperar tanto do ser humano?           

"Força da Imaginação"

Conversando hoje com uma amiga fiquei sabendo - com pesar - que a cefetização do Colégio Técnico Universitário incluiu o estabelecimento na triste categoria de comércio de diplomas. Ainda que a palavra comércio aqui não se aplique com exatidão devido tratar-se de escola pública.

Mas acredito que por se tratar de espaço público a metáfora do sistema bancário de ensino se faz muito mais cruel.

Essas reclamações se fundam no fato de o CTU estar oferecendo o curso técnico em Enfermagem à distância no período noturno, com aulas presenciais uma vez por semana. Perguntaram para um dos alunos como ele faz para, por exemplo, punsionar a veia de um paciente. O rapaz explicou que os alunos visualizam pela internet e fazem alguns cliques. Pronto. Simples assim.

Eis o que eu chamo de maravilhosa "força da imaginação".

Créditos da imagem: Ilustração referente ao desenho animado "O fantástico mundo de Bobby", exibido alguns anos atrás pelo SBT. Fonte aqui: http://shopping.banner-link.com.br/loja/loja.asp?loja_id=537&Pedido_Id=&produto_id=60350