quinta-feira, 19 de agosto de 2010

Reativado para a crítica

Enquanto estava no Brasil, muitas vezes me perdia entre manter um trabalho e estudar, mas, agora que estou no estrangeiro só por conta de estudos, tenho um pouco mais de tempo para ler e escrever, de modos que pretendo reativar este blog. Hoje o reativo para fazer uma crítica, já que o site do Terra Notícias não deixa espaço a comentários. Ou eu não sei fazer comentários. Dá na mesma.

O que se passa é que estava procurando notícias sobre a escritora Clarice Lispector, que também vou estudar aqui na Argentina, e topei com a seguinte página http://diversao.terra.com.br/arteecultura/noticias/0,,OI4612287-EI3615,00-Biografo+americano+considera+Clarice+Lispector+acima+da+media.html.

E escrevo a postagem para fazer um reparo, e só um: não é possível ler impunemente uma afirmação do tipo: "Clarice Lispector vive para Benjamin Moser. O norte-americano nascido em Houston é o maior biógrafo da escritora brasileira mais famosa." A minha, digamos, indignação se deve a que:

1. Benjamim Moser escreveu um ensaio biográfico sobre Clarice e que as editoras estão vendendo como sendo o melhor trabalho sobre a autora. Endossar esse tipo de discurso, porém, implica em ocultar nomes importantíssimos nos estudos clariceanos como Olga Borelli e Nádia Battella Gotlib, para citar apenas dois.

2. Apesar de Clarice ser uma grande escritora (eu próprio sou um amante de sua prosa) e de atualmente estar sendo destacada porque a leitura de seus livros confere status aos leitores; dizer que seja a escritora brasileira mais famosa é ignorar dois fatos:

a) em vida, Clarice encontrou mais incompreensão que uma admiração sincera por parte da crítica, que muitas vezes a tachou de hermética e difícil; levando-a a surpreender-se com a recepção que teve sua coluna semanal no hoje extinto JB, nos idos de 1967.

b) existem outras escritoras "de peso" na literatura brasileira, como Cecília Meireles, Lígia Fagundes Telles, Rachel de Queiroz, Carolina Maria de Jesus, Dinah Silveira de Queiroz e muitas outras que, se não são estudadas e badaladas pela mídia, é devido ao fato de não existir um interesse editorial de que isso ocorra e também porque elas "já saíram de moda", o que me parece muito triste e cruel. Sobretudo no caso de Lígia, que enfrenta uma morte em vida.

Um comentário:

  1. Gostei da sua crítica. Comprei o livro do Moser, mas ainda não consegui ler, está em segundo lugar na minha lista de espera. Gostaria de entender essa fascinação que tantos brasileiros têem por Clarice. No contexto de adoração que muitos constroem ao redor de seus escritos, fico até com medo de falar o que realmente penso sem antes estar calcada em forte base argumentativa. Assim sendo, e por estar sem tempo pra me meter em polêmicas, prefiro aguardar. Vou ler o livro do Moser e depois voltamos ao assunto, sim? Já li vários textos de Clarice, confesso que fora alguns trechos que falaram muito ao meu coração, não li ainda algo dela que me tirasse de órbita completamente. Já de outras autoras e autores brasileiros que não estão na moda, como você mesmo disse, li textos que me deixaram com esta sensação, ou seja, por algum tempo no ar. Interessante é que quando citam Clarice fora do Brasil (já vi dois ou três casos), sempre destacam o fato dela não ter nascido no Brasil, como se isso fosse um diferencial na sua obra. Bom, essa foi a impressão que tive ao ouvir os comentaristas. Se os brasileiros não conhecem o Brasil, como cobrar isso dos estrangeiros? Se bem que há exceções... Um abraço, Ailton. Escreva mais!

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