sábado, 23 de abril de 2011

Uma surpresa agradável e um certo peso na consciência


Noite de Sexta-Feira Santa. Na TV ligada poucas opções de programas que pudessem chamar a minha atenção. Nem mesmo as novelas, que às vezes vejo para ter o que criticar. Elas já tinham acabado. Foi então que "passeando" entre um canal e outro topei com Eva Wilma recitando um texto e parei, curioso, para ver do que se tratava. Pelas fotos que compunham o pano de fundo do estúdio, suspeitei ser algo relacionado à Lygia Fagundes Telles. E acertei.

Esta a surpresa de que falo no título. O programa (vim a saber que era uma reprise) me surpreendeu por vários motivos. Um deles o fato de escapar ao óbvio desfile de personagens bíblicos e/ou figuras católicas que saturam a programação destes dias. Outro motivo: o fato de mostrarem um pouco a vida e a obra de uma autora que, na minha percepção, a mídia e o sistema editorial trataram de sepultar em vida. O excesso de publicidade em torno, por exemplo, de Clarice Lispector, que aliás foi amiga de Lygia, acaba deixando na sombra não só a obra desta última, mas a de outras autoras brasileiras.

E foi então que veio o "peso na consciência". De que vale todo esse meu discurso contra o sistema se, ao fim e ao cabo, nem eu li Lygia Fagundes Telles? Eu, estudante de Letras, também ignoro a existência dos livros de Lygia e mesmo se vier a lê-los depois de ter visto o programa, já não será a mesma coisa que uma "descoberta", um "encontro". Claro que há o prazer da leitura, o desejo e a necessidade de se ler aquilo de que se gosta, mas, ainda assim, é cruel deixar certos autores de lado. É cruel não gostar sem sequer ter tentado. Por isso, mesmo sabendo que não será a mesma coisa, vou incluir algum livro da Lygia entre as minhas próximas leituras.

Distintas Marias, a mesma folia...

Comento com atraso e por isso serei breve: não dá para concordar com a aprovação dada pelo governo, através da Lei Rouanet, para os projetos que serão tocados por Maria Bethânia e Maria Rita. Argumentos favoráveis e contrários já foram apontados por outras pessoas. Aqui, estou só marcando posição. Acho que elas poderiam tocar com recursos próprios.

No caso específico de Maria Rita, que, depois de anos de resistência (e mais recentemente de acomodação a um repertório "sambístico" de fácil/forte apelo popular), passará a interpretar as músicas de sua mãe, só cabe dizer uma coisa: redescobrir Elis também envolve redescobrir uma ética profissional e uma verdade humana que hoje passa longe do show business brasileiro.

Como eu disse, serei breve porque meu comentário está atrasado. Mas não tenho medo de ser criticado ou taxado de anacrônico ou desatualizado. Por sorte, os tempos já não são tão bicudos e não há risco (aparente) de acabar ficando "três dias num terreno abandonado ostentando onze fitas de Ogum", morto por "engano, vingança ou cortesia".