Noite de Sexta-Feira Santa. Na TV ligada poucas opções de programas que pudessem chamar a minha atenção. Nem mesmo as novelas, que às vezes vejo para ter o que criticar. Elas já tinham acabado. Foi então que "passeando" entre um canal e outro topei com Eva Wilma recitando um texto e parei, curioso, para ver do que se tratava. Pelas fotos que compunham o pano de fundo do estúdio, suspeitei ser algo relacionado à Lygia Fagundes Telles. E acertei.
Esta a surpresa de que falo no título. O programa (vim a saber que era uma reprise) me surpreendeu por vários motivos. Um deles o fato de escapar ao óbvio desfile de personagens bíblicos e/ou figuras católicas que saturam a programação destes dias. Outro motivo: o fato de mostrarem um pouco a vida e a obra de uma autora que, na minha percepção, a mídia e o sistema editorial trataram de sepultar em vida. O excesso de publicidade em torno, por exemplo, de Clarice Lispector, que aliás foi amiga de Lygia, acaba deixando na sombra não só a obra desta última, mas a de outras autoras brasileiras.
E foi então que veio o "peso na consciência". De que vale todo esse meu discurso contra o sistema se, ao fim e ao cabo, nem eu li Lygia Fagundes Telles? Eu, estudante de Letras, também ignoro a existência dos livros de Lygia e mesmo se vier a lê-los depois de ter visto o programa, já não será a mesma coisa que uma "descoberta", um "encontro". Claro que há o prazer da leitura, o desejo e a necessidade de se ler aquilo de que se gosta, mas, ainda assim, é cruel deixar certos autores de lado. É cruel não gostar sem sequer ter tentado. Por isso, mesmo sabendo que não será a mesma coisa, vou incluir algum livro da Lygia entre as minhas próximas leituras.