domingo, 12 de fevereiro de 2012

Tem dias...

Tem dias que não consigo escrever como queria, para colocar em palavras as sensações que o excesso de trabalho e os assuntos de família me tem trazido. Até mesmo os arremedos de poema que coloquei por aqui, embora escritos num arranco, demoraram bastante até serem devidamente registrados neste blog multifacetado, cuja linha principal de organização creio já ter perdido.

Entre a minha intenção de escrever e a execução do ato de escrever, vai um longo trecho, um hiato, principalmente quando quero falar de um modo cifrado sobre assunto que não comporta alarde. Pois se tem dias que até escrever atualizações pro Facebook é chato.

quarta-feira, 8 de fevereiro de 2012

Dias de angústias renovadas [7]

A vaga

Depois de dias internada, a paciente consegue, enfim, uma vaga
em outro hospital, onde, espera-se, será enfim reabilitada.

Mas com uma vêm outras vagas. A começar por esta vaga esperança,
indeterminada, que nos levanta a cada dia para lutas renovadas.

Os sentimentos que como pó foram ocultados,
sob o tapete das aparências, nos dias sem novidade, de espera angustiada,
pouco a pouco se avolumam e, agrandados, ameaçam romper o seu cercado:
o coração, já o antevê como praia em dia de ressacada.

Tropel tumultuoso, de que lhe serve a marcha desesperada?
Apesar do refluir das vagas e da esperança vaga que trazem arrastada,
ao leigo neto poeta só lhe resta escrever e esperar: mais nada.

terça-feira, 7 de fevereiro de 2012

Dias de angústias renovadas [6]

Objetos voadores

Diante de dores que uns calam,
outros descontam na bebida.
Há também os que têm crises de nervos,
e os que choram em noites mal-dormidas

Mesmo ostentando nomes de santo e/ou de evangelistas,
com fé na cristandade e/ou crença em outras vidas,
a família inteira se debate, sentida.

Os contornos de uma tensão riscam o ar da noite
e mudam-se, rápidos, em objetos voadores.
Seriam delírios de nossas mentes desgastadas?

Sinais de outra tragédia a ser evitada,
eles contam uma história que lhe arqueia as sobrancelhas:
o desespero que opõe tios a sobrinhos por um nada,
termina com roupas cheias de manchas vermelhas.

segunda-feira, 6 de fevereiro de 2012

Dias de angústias renovadas [5]

Dias em branco (prosa)

Chegou o desespero mudo a tal ponto que vários dias se passaram sem que uma única palavra brotasse da boca ou dos dedos para dar sentido a tanta expectativa, mundo um tanto quanto confuso. Como autômato fez de um tudo: comeu, dormiu, trabalhou. Ouviu, falou. Às vezes riu, mas em nenhum dia chorou. 

Se lhe perguntarem como ou quanto o tempo passou, capaz que não responda com precisão. Sabe apenas que passou e, apesar disso, uma triste constatação: muito pouca coisa mudou.

quinta-feira, 2 de fevereiro de 2012

Dias de angústias renovadas [4]

Alguém se lhe antecipa

Quando menos se esperava,
alguém em outra casa grita.

É um grito convulso, que escuto com susto,
enquanto a notícia funesta se alastra e,
indiferente, um moleque empina sua pipa.

Morreu um senhor conhecido.
Pelos anos (e por um cancro) carcomido:
sua partida antecipou-se à morte que o poeta cria anunciada.

Lampejo de felicidade frente ao jogo das probabilidades:
a doente do último sábado, continua encarnada.