sexta-feira, 20 de dezembro de 2013

Luzes de Natal

Foto de uma das construções históricas de Juiz de Fora (o Castelinho da Cemig) iluminada pelas luzes de Natal. A foto foi tirada por mim mesmo.


sábado, 17 de agosto de 2013

Clarice Lispector me ajudando (de novo) (como sempre)

Como, em geral, me atraso para publicar textos aqui no blog, na Revista Encontro Literário e em outros blogs e sites de que participo na internet, mesmo os habitués deste "meu" espaço virtual pode ser que não estranhem meu silêncio, ainda que ele esteja se prolongando além do que eu próprio gostaria.

Estava buscando a melhor forma de me expressar a esse respeito e de novo (e como sempre) fui ajudado por Clarice Lispector nessa tarefa de dar sentido e organizar parte do meu caos cotidiano, repartindo em pedaços a carne imensa e única que prenunciaria a loucura. Pinço aqui algumas falas de sua já famosa entrevista:

Sobre a escrita, ela diz que "tem períodos de produzir intensamente e tem períodos, hiatos, em que a vida fica intolerável". Não diria que estou vegetando nem que a vida se me faz intolerável pela impossibilidade da escrita. Essa impossibilidade é, contudo, uma conta a mais no rosário de "senões" cotidianos que deságuam no silêncio grande atual, o qual a escrita poderia ao menos tentar quebrar.

Crianças x Adultos: ao ser questionada sobre se seria mais fácil se comunicar com crianças ou com adultos, Clarice diz, no decurso da resposta, que o adulto é triste e solitário, ao passo que a criança tem a fantasia solta. Instada a explicar a partir de qual momento a tristeza e a solidão se instalam, ela se esquiva: "Isso é segredo. Desculpe, mas eu não vou responder... a qualquer momento da vida. Basta um choque um pouco inesperado e isso acontece."

Para finalizar esse texto (na realidade uma transcrição, com cortes, da entrevista) destaco uma fala que não exatamente sei como interpretar. Diz Clarice: "mas eu não sou solitária não... tenho muitos amigos. E só estou triste hoje porque estou cansada.

Essa é uma de minhas frases favoritas. Ainda que me faltassem amigos (o que, por sorte, não é verdade), poderia alegar o cansaço como causa da minha tristeza ou do "silêncio grande atual", como queiram chamar isto, e, mesmo que seja uma explicação improvisada, talvez ela seja a mais próxima da verdade neste momento. Abaixo um link para o trecho do vídeo do qual retirei essas citações.

http://youtu.be/9ad7b6kqyok?t=6m10s

quarta-feira, 29 de maio de 2013

Um e-mail de 14 de junho de 2006

Continuo remexendo velharias para alimentar o blog. É um exercício interessante, ainda que às vezes eu me depare com coisas que me assustam. 

É o caso deste e-mail de 14/06/2006 que intitula essa postagem. Me sinto assustado porque, de repente, dou de cara com um outro eu que em nada corresponde à realidade atual da minha vida. No caso particular desse e-mail, eu tratava de questões "angustiantes". Só posso dizer que talvez eu já não seja tão religioso. Acaso Deus está agora mais próximo de mim, como eu supus que Ele estava mais próximo da minha amiga? Com vocês, o e-mail:

Tudo bem com você? Espero que esteja.
 
Agradeço, novamente, por mandar-me e-mails. Aquele sobre dizer "eu te amo" é maravilhoso, eu já conhecia o texto. É verdade, a vida é muito curta pra deixarmos as demonstrações de afeto pra depois. Pode não haver depois. Não houve depois para aquela família, porque quando encontraram o menino morto já era tarde.
 
Mas eu escrevi mesmo foi para colocar uma frase da Clarice Lispector pra você. Eu queria ter colocado na resposta daquele outro e-mail, sobre Deus e etc. e tal, mas não foi possível. Ei-la:
 
"Mesmo para os descrentes há a pergunta duvidosa: e depois da morte? Mesmo para os descrentes há o instante de desespero: que Deus me ajude... Venha, Deus, venha. Mesmo que eu não mereça, venha. Sou inquieta, ciumenta, áspera, desesperançosa. Embora amor dentro de mim eu tenha. Só que eu não sei usar amor: às vezes parecem farpas. Se tanto amor dentro de mim recebi e continuo inquieta e infeliz, é porque preciso que Deus venha. Venha antes que seja tarde demais."    
 
Eu acho que essa frase tem um pouco a ver com o que você falou sobre eu ser religioso e você não. Quer dizer, Deus está dentro de você, dentro de mim, dentro de todos nós e é por isso que, inconscientemente, chamamos por Ele. É a tal pergunta duvidosa, o tal instante de desespero. E Ele é tão bom que nos atende, mesmo se não somos modelos de religiosidade. O importante é crer!!! A Religião é apenas uma forma. Você pode estar muito mais próxima d'Ele que eu. 
 
Um abraço,

domingo, 26 de maio de 2013

A respeito do espetáculo "Cartas Portuguesas"

Pulemos os preâmbulos. O texto que publiquei antes deste traz todas as minhas habituais piruetas pré-textuais e não pretendo cansar os leitores me repetindo. Vamos aos fatos: ontem (25/5) à noite, como parte da programação do Corredor Cultural de Juiz de Fora e, também, do Ano de Portugal no Brasil, o grupo carioca 6 Marias e 1/2 apresentou a peça Cartas Portuguesas. Fui assistir com alguns amigos que não são da área de Letras e que não tinham, portanto, a obrigação de saber das desditas de Sóror Mariana Alcoforado, autora das cartas que intitulam o espetáculo. Aliás, o fato de estar acompanhado aumentava minhas expectativas com relação ao que seria apresentado pois não queria passar pelo constrangimento de levar as pessoas para um "programa de índio"¹.

Por sorte, toda essa apreensão inicial se desfez ao longo de uma hora de espetáculo. Por sorte não, por competência do grupo que soube trabalhar muito bem (ao menos na minha opinião) o conteúdo das Cartas Portuguesas. Mais que isso, seu trabalho não precisou valer-se de excessos cênicos ou de cenário elaborado. A propósito, o palco era adornado com recursos bastante simples: uma profusão de folhas escritas penduradas em uma trave e outras tantas espalhadas pelo piso. Destaque também para o figurino das atrizes, que em algum momento da peça nos surpreendeu quando a saia de uma delas se transformou em um enorme lençol também ele coberto de palavras.

A trilha sonora do espetáculo seguiu o mesmo padrão de simplicidade, sendo composta apenas pelos sons de um acordeon tocado por um rapaz que estava na boca de cena mas não interagia diretamente com as três atrizes a cargo de interpretar Mariana. Sim, três atrizes se revezavam no papel de interpretar a freira que sofria por amor entre as paredes do convento e transpunha para o papel esse sentimento, em uma escrita atravessada pelas contradições do período Barroco. 

Essas contradições, diga-se de passagem, foram muito bem representadas no arco de cenas em que uma das atrizes se debruçava sobre o papel tentando concatenar as ideias e as outras duas, como vozes em sua consciência, se digladiavam a respeito do como e do que devia ser escrito naquela carta. Neste particular, merece menção a lufada de "modernidade" dada ao texto, já que os diálogos incluíram termos mais atuais, fazendo ver que as desditas de amor não são exclusividade do século XVII. Além do mais, essas cenas arrancaram risos da audiência e eu acho interessante quando se consegue esse tipo de envolvimento do público. Em todo caso, devo dizer que o público não foi tão receptivo quando as atrizes desceram do palco para interagir com alguns espectadores.


Resumo da noite: uma boa apresentação teatral, que, infelizmente, não será bisada no Corredor Cultural ou outro evento do tipo. O trabalho do grupo, concentrado no texto e na repercussão deste sobre o público, aliado à simplicidade (eficiente) do cenário e da trilha sonora proporcionou um bom contato com as Cartas Portuguesas e surpreendeu positivamente até aqueles que não esperavam muito da noite ou não tinham familiaridade com o texto que originou o espetáculo.

Nota única:

1. Sei que a onda politicamente correta atualmente em curso deveria me impedir de usar a expressão "programa de índio". No entanto, eu a uso não por menosprezar os povos indígenas ou achar que eles participam de eventos ruins ou desinteressantes, mas apenas por ser uma expressão linguística já incorporada à língua e cujo significado é captado diretamente pelos leitores e me exige menos palavras que essa explicação toda. Tão imensa quanto desnecessária, talvez.

Observação: as duas fotos foram tiradas por mim, durante a apresentação. Não fui o único a fazer registro fotográfico e não havia, até onde sei, restrições de que isso fosse feito. Aliás, os créditos da foto poderiam ser denunciados pela má qualidade, uma vez que não sou fotógrafo profissional.

Sobre o 3° Concerto Didático SESC/JF

Desnecessário dizer que o blog não é, de per si, um espaço de crítica de arte. Menos ainda as razões por que, eventualmente, textos dessa natureza ocupam este espaço. Novidade aqui só uma: a intenção de comentar e divulgar a excelente iniciativa dos Concertos Didáticos promovidos pelo Sesc/JF. Estes concertos são realizados sempre na última sexta-feira de cada mês e este que vou comentar contou com a participação do Grupo Sinfonietta.

Eu próprio não sabia da existência dos concertos antes, tanto que teço meus comentários sobre o terceiro concerto da série. Ocorreram outros dois antes, portanto. Cheguei ao conhecimento do evento pela indicação de um amigo. Por tudo isso, acho justo e necessário escrever a respeito. E, se todas essas razões fossem insuficientes, me restaria argumentar com o número de presentes à apresentação: 27 pessoas. O número 27 não deixa dúvida a respeito do atual alcance do evento, ponto que gostaria sinceramente de ver modificado. 

Ditos os motivos que me levam a escrever, passo aos comentários sobre o que vi/ouvi na sexta-feira última, dia 24/05. Conforme informação do programa, um " 'concerto didático' pode ser definido como uma apresentação musical comentada, com o intuito de possibilitar ao público certa aproximação com a música erudita". Quanto a isso, não resta dúvida de que a simpatia do maestro Irineu Pereira contribui (e muito) para deixar os presentes à vontade e a linguagem utilizada por ele foge, na medida do possível, de termos técnicos que poderiam prejudicar a comunicação. Antes de prosseguir, apenas quero deixar registrado que o mérito do projeto reside justamente em desmitificar a música erudita, dando ao público um mínimo de conhecimento que permita um acercamento sem temor a essa forma de arte.

Além disso, os integrantes do grupo mostraram-se solícitos ao tocar brevemente uma, duas ou até três vezes (antes da execução das peças do programa) para mostrar a característica do som de seus instrumentos, ilustrando as explicações do maestro.

No repertório do concerto, três movimentos do Concerto Grosso n° 10 de Handel (Allegro, Air e Allegro), precedidos pela explicação sobre o diálogo dos dois violinos e do violoncelo dos solistas na "fuga" que caracteriza o Allegro. E também a respeito da característica mais lírica do movimento intitulado Air, a qual poderia deixar nos ouvintes a sensação de estar "faltando uma voz humana" no concerto.

Em seguida o grupo executou o Allegro e o Romanze da Pequena Serenata Noturna de Mozart. Não sou exatamente um entendido em música erudita, mas reconheci a música aos primeiros acordes. Composição conhecidíssima (o romanze, inclusive, costuma ser tocado nos cortejos de casamentos), propicia no concerto aquele momento de identificação do público, que, apoiado em uma presunção de conhecimento, torna-se ainda mais partícipe do evento.

Foto do Grupo Sinfonietta em ação, tirada pelo meu amigo Adão Felipe.

A terceira peça do programa foi uma composição do brasileiro Paulo Cesar Maia de Aguiar que, aliás, estava presente ao concerto e trocou palavras breves com o maestro num português carregado que deixou entrever a verdade da sua biografia apresentada no programa, na qual consta a informação de que o compositor atua mormente no Hemisfério Norte. O Congo e a Sinhazinha, possui características de choro e agregou à orquestra uma flauta e um clarinete, cujos sons representavam os personagens que dão título à peça.

À parte das composições elencadas no programa e à maneira de um bis antecipado, o grupo tocou ainda Bola de Meia, Bola de Gude (Fernando Brant/Milton Nascimento) e My Girl (W. "Smokey" Robinson - da trilha sonora do filme Meu primeiro amor). Ambas as composições foram arranjadas pela violoncelista Ana Maria de Oliveira Vieira e constituíram outro momento de identificação, além de demonstrar que violinos, violas e violoncelos não são instrumentos de um passado distante e inacessível, mas sim objetos vivos, cuja arte também pode colocar-se a serviço da execução de peças contemporâneas.

Resumo da noite: em uma apresentação de mais ou menos 60 minutos tivemos a oportunidade de ver e ouvir o trabalho de um grupo de músicos dedicados que colocaram sua arte, com eficiência, a serviço da divulgação cultural, buscando, como se disse, aproximar o público da música erudita. E aproximaram, com certeza.

quarta-feira, 8 de maio de 2013

O travo amargo do silêncio (ficção) (trecho)

Depois de esperar por três dias, cuja duração foi despistada por conversas sobre o tempo, nascimentos de parentes, mortes de artistas, doenças e outros assuntos de menor importância, depois de três dias, ele finalmente foi admitido à sala do chefe.

Ele, que até então queria entrar lá por iniciativa própria, tinha recebido um chamado. A razão, desconhecia. Sabia apenas de suas razões, de seu desejo de liberdade, sua vontade de não ficar como Carlitos, apertando parafusos toda a vida naquele lugar. As palavras todas iam se avolumando dentro dele, à espera daquele momento em que, expelidas, forçariam a libertação.

No entanto, ele soube a razão do chamado. Era tão inútil quanto as conversas dos dias anteriores (ou mais). O espanto, em lugar de fazer sair o tropel de palavras libertadoras, trancou-as sob um pesado silêncio de consternação. Com raiva de si mesmo, voltou a apertar seus parafusos, à espera de outra (melhor) ocasião.

quinta-feira, 18 de abril de 2013

Relendo/refazendo este blog

Houve um tempo em que eu criei um marcador chamado "Sobre a arte de blogar e outras artes", mas, como outros, ele já desapareceu deste meu espaço virtual. Por um lado, não fui particularmente feliz com a metalinguagem; por outro, não consegui organizar adequadamente minhas impressões a respeito do meu modus operandi como blogueiro (que não sou).

Uma coisa é certa, porém: o caráter amorfo deste blog. Isso aqui não é um diário (ainda que tenha postagens mais pessoais ou circunstanciais), não é um espaço de críticas (ainda que albergue alguns gritos mudos de indignação por coisas que, lidas hoje, soam velhas ou fora de contexto), não é um espaço de notas soltas (embora receba trechos de coisas que estou produzindo ou comentários esparsos sobre assuntos diversos). Ultimamente, ele tem funcionado muitas vezes como espaço de divulgação da minha pouca e má produção literária. Penso que o título do blog (Um eterno brain storm) e a nota explicativa abaixo deste deveriam dar conta da multiplicidade de coisas que coloco aqui, mas, relendo, ainda tenho dúvidas a respeito.

Apesar de todas as limitações ou incompreensões postadas acima, faço poucas alterações no conjunto da obra. Postagens houve (poucas, pouquíssimas) que eu excluí do blog. Alguns marcadores eu excluí também. Há alguns dias, decidi pela extinção do marcador "sustos". Era vago e impreciso e abarcava, no geral, questões da vida universitária que foram postadas com um olhar muito mais intolerante do que aquele que tenho hoje. Talvez até por já estar formado. Entre apagar as postagens ou reenquadrá-las na categoria de Comentários gerais, optei por esta última opção.

Num blog pouco lido e pouco comentado, talvez essas mudanças passassem (e passam) desapercebidas, mas preferi escrever um texto (bastante grande, por sinal) para falar disso. Talvez (me) ajude a entender.

quarta-feira, 17 de abril de 2013

Sobre dois filmes assistidos em 05/03/2013

Não pretendo fazer deste blog um espaço de crítica de arte. Disse isso em minha última postagem, mas repito para não deixar margem a dúvidas. Se tenho escrito sobre esses assuntos é porque ou me vejo na obrigação de organizar minhas vivências através da linguagem ou, como é o caso do texto de hoje, me vejo na obrigação de manter o blog minimamente atualizado (o que, sabe-se, não consigo de todo).

Para manter um ritmo de publicação, tenho resgatado alguns textos antigos e até e-mails. Hoje, optei por resgatar duas indicações de filmes já fora de cartaz que assisti há algum tempo e que comentei em frases curtas, via Facebook. Basicamente, reproduzo aqui o que está lá. E, claro, me repito e me denuncio. Mas o faço antes que algum leitor queira apontar a repetição e acusar-me de agir de má-fé. Vamos às notas:

[1] Sugiro aos amigos que vejam O som ao redor (Brasil, 2012, 131 min). A despeito das muitas histórias paralelas (recurso nem sempre apreciado), a película é particularmente feliz ao pintar um retrato do brasileiro atual com suas neuras, vícios, taras&manias, impulsos consumistas e relações de compadrio e/ou indiferença. Claro: tudo isso com muito som ao redor dessas cenas da vida "comum".





[2] Outro filme que recomendo é César deve morrer (Itália, 2012, 76 min). Para aqueles que acreditam na Arte com fervor (como eu), é uma excelente profissão de fé. Aliás, serve de exemplo também para as autoridades repensarem a função e o funcionamento dos espaços prisionais. Sugiro a quem assistir que dê especial atenção às cenas em que, recitando Shakespeare, os presos são colocados em posição de revisitar suas próprias histórias.



segunda-feira, 15 de abril de 2013

A angústia apaziguada

Houve dias de angústias renovadas. Houve. Eram aqueles dias em que a esperança se debatia e era ela quem fazia de cada revés, recaída ou contratempo angústias renovadas - algumas delas exorcizadas em forma de poesia.

Hoje vê-se a história repetida: parenta internada. Hospital, horário de visita. Nos boletins médicos, sobressaltos que não são novos. Novo é o fato de a esperança estar fugidia, assim como as angústias que não se renovam como naqueles dias idos. Algo se partiu dentro de mim: conformei-me com a ideia da perda ou foi a angústia, por si mesma, que perdeu o seu sentido?

quinta-feira, 11 de abril de 2013

A respeito de duas apresentações musicais

Não tenho a pretensão de transformar o blog em um espaço de crítica de arte. Não tenho condições de assumir essa função, nesse momento da minha vida. Por um lado eu teria de frequentar muito mais shows, apresentações teatrais e lançamentos de livros do que hoje e, embora possa ser positiva, não é uma prática que eu deseje de todo. Por outro, me faltam conhecimentos técnicos suficientes para comentar música ou jogo de cena com a mesma (relativa) desenvoltura com que falo de literatura, que é minha área de interesse e, por isso mesmo, de estudos.

É como eu escrevi em um comentário no Facebook: "Eu queria entender um pouquinho mais de música para poder fazer uma resenha decente". Diante da impossibilidade, resta a sensibilidade.

Depois dessa introdução imensa (e talvez truncada e desnecessária) vou entrar no assunto que me levou a escrever. Nos últimos dois dias assisti, com alguns amigos, a duas apresentações musicais dadas a público em Juiz de Fora. A primeira foi um show de Joãozinho da Percussão, realizado em 09/04, no Teatro Pró-Música/UFJF.

Joãozinho da Percussão e banda. Foto: Junior Felipe, meu amigo.
Com entrada franca, o show foi relativamente concorrido. Havia assentos vazios no teatro, mas não tantos como costuma ocorrer em apresentações de música erudita. Em contrapartida, não havia a obrigatoriedade de entregar o "convite individual" na entrada, o tipo da "quebra de protocolo" que ajuda a dessacralizar o espaço de circulação da arte [1]. 

Comemorando 60 anos de carreira, Joãozinho e a banda que o acompanhava esbanjaram ritmo, com direito a uma pequena sessão de sapateado que me deixou fascinado. Uma coisa linda e imprevista, ele lá, tirando sons maravilhosos das madeiras do piso do palco. Além, claro, dos instrumentos todos, tocados mesmo quando uma criança pequena foi levada ao palco e tentava mexer naquelas "coisas" tão curiosas aos seus olhos infantis.

No variado repertório, músicas do grupo juiz-forano Lúdica Música e de compositores velhos conhecidos do público como Benito de Paula (Retalhos de Cetim), Tom Jobim (Chega de Saudade, aliás, música-título da apresentação), Tim Maia (Você e eu, eu e você, melhor número do show com solos de todos os instrumentos) e Jorge Ben Jor (Natal brasileiro e Mas que nada, tocada no bis), entre outros.

E ontem, 10/04, no mesmo teatro, no mesmo horário das 20h e na mesma condição de entrada gratuita, a pianista carioca Vera Astrachan apresentou peças de Haydn, Beethoven, Brahms, Prokofieff e Heitor Villa-Lobos (a saborosa "A maré encheu", executada no bis). 

Com um público bem mais escasso (50 pessoas? 60?), mas em contexto mais formal - exigiam-se os convites individuais na entrada -, o teatro encheu-se com o som do piano, tocado com a maestria que o currículo da pianista deixa entrever já na leitura do programa. Não deixei de notar (alertado por um amigo) o esforço que certas passagens exigiam, as mesmas que levaram a uma entrega total da intérprete, que envolvia todo seu corpo na execução.

Foto (de longe) de Vera Astrachan tocando piano. Tirada por mim mesmo
Em resumo, foram duas apresentações de muito bom gosto e representaram duas oportunidades de entretenimento cultural gratuito em Juiz de Fora. E que bom que temos a oportunidade de contar com iniciativas dessa natureza. 

Se tenho uma crítica a fazer, esta recai sobre a organização dos eventos que peca (e não de hoje) na divulgação. Vide reflexo na escassez do público. Mais que isso, a organização peca em deixar coincidir, em um mesmo dia, eventos musicais destinados ao mesmo público. Isto vem à guisa de comentário e o explico: é que também ontem, às 20h, estava programada uma apresentação do pianista Adriano Tavares no Museu de Arte Moderna Murilo Mendes (Mamm). Eu me pergunto se não houve, em algum momento, a possibilidade de remarcar um dos dois eventos para desfazer a coincidência, mas isso realmente não tem uma resposta. Pelo menos, não uma que eu possa dar.

Nota única:

[1]Talvez por trás de tudo isso esteja a ideia de que a música popular permite um certo "relaxo". Não sei. O que sei é que qualquer forma de arte deveria valer a pena e o povo de Juiz de Fora deveria ser informado da realização desses eventos e se sentir à vontade para participar tanto do show popular quanto do erudito. Sem traumas, sem neuras.

quinta-feira, 14 de março de 2013

Sobre o "realismo" nas artes

Há dias comprei um livrinho de fábulas chinesas editado pela L&PM na sua coleção 64 páginas (ver capa ao lado). Entre um texto e outro me deparei com um muito interessante sobre um pintor que explicava seu trabalho.

Indagado sobre o que seria mais fácil de pintar, ele não hesita em responder que são fantasmas e monstros pois, por não existirem nem terem sido vistos, estes seres não tem forma definida e podem ser pintados mais facilmente.

Fiquei pensando se essa explicação do pintor não se aplica também, ainda que de modo diverso, a outras artes e, mais que isso, penso se ela não é adequada para descrever o drama de quem busca alcançar o "realismo" com sua arte, fazendo dela um espelho de coisas sempre vistas. Neste caso, um confronto com os originais poderia explicitar eventuais "falhas" do processo de representação.

quinta-feira, 21 de fevereiro de 2013

"Desculpem, mas se morre"

Nunca está demais, para mim, citar esse vulcão de sensibilidade chamado Clarice Lispector. Veja-se a beleza com que ela descreve, em poucas palavras (o título que escolhi para este texto), o desacerto em que nos vemos quando a morte dá a público mais uma de suas vitórias.

Eu queria poder escrever algumas linhas, um rascunho poético qualquer para dizer adeus a uma grande amiga que hoje fez sua passagem para o "undiscovered world". Mas será que dona Alcina precisa de meus arremedos de literatura com uns longes de citacionismo truncado, para saber que sua partida está me doendo? Provavelmente não, mas me faltam outras (e melhores) formas de reagir. Humildemente tentei uns rabiscos.

Sem ser minha parente,
vim a ser seu descendente
pela afinidade que nos unia
e pela dor que me punge,
por sua partida.

A notícia não veio agora, 
dolorida em seu descompasso.
Primeiro veio a notícia da piora;
só depois ela deu o derradeiro passo:
saiu da vida, entrou em outros espaços.

Não precisa entrar na história.
Nem tinha essas pretensões, embora
vá ficar em minha memória
cada gesto e cada palavra, inapagáveis traços 
(de mútuo apreço).

quarta-feira, 13 de fevereiro de 2013

Três indicações de leitura (e um mea culpa)

Precisei encontrar um livro sobre "boas maneiras" na internet para me lembrar de acrescentar à lista de blogs (favor ver links à direita desta página) três links para sítios em que participo/participei direta ou indiretamente.

Um destes links remete para a Revista Encontro Literário, da qual sou um dos editores (ainda que publique com pouca frequência e de modo algo assistemático). A ideia da revista é divulgar informações relevantes no campo da leitura e literatura, além de fomentar a produção de novos autores através dos editais de seleção de contos e poesias que são lançados duas vezes ao ano e que culminam na publicação de algumas obras selecionadas.

O segundo link (aceitando que os leitores sigam minha indicação) leva para a página de um coletivo chamado Quinze Contos Mais. Organizado pela minha companheira de ofício Helena Frenzel, a página tem por objetivo "reunir trabalhos de boa qualidade literária e dar espaço a autores novos ou ainda pouco conhecidos que se dedicam  ao gênero conto e suas variações". Participei do projeto com um conto chamado "Uma casa cheia de flores". Ficarei feliz se alguém daqui for ler meu texto lá e, mais ainda, se prestigiarem os demais autores do Quinze Contos Mais.

Por último, acrescentei um link para o blog do grupo de leituras Sempre um Livro, do qual sou membro-fundador. Em geral são feitas duas postagens a cada mês, assinadas pelo participante que vence a indicação de leitura. Como venci apenas uma vez, não será tão fácil encontrar textos com a minha assinatura, mas, de qualquer maneira, ler o blog é tomar contato com várias indicações de obras literárias que valem a pena ser conhecidas.


segunda-feira, 28 de janeiro de 2013

A polêmica em torno da prova de Literatura do PISM III: tentando ver além do certame

Chego com atraso à discussão e, talvez, não devesse escrever nada a respeito do assunto uma vez que a Universidade Federal de Juiz de Fora, da qual sou aluno (graduando do curso de Letras), já se manifestou a respeito e, por outro lado, já foi bastante questionada em sua posição arbitrária por alunos que prestaram a prova do PISM III e seus professores que mencionaram a possibilidade de levar o tema a julgamento.

Apesar do atraso e do receio de estar me metendo em assunto "já resolvido", opto por dedicar algumas linhas ao tema e isto porque [1] não tenho a pretensão de que meu blog seja muito lido e [2] ainda que eu tenha alguns leitores, não quero tratar do problema em si, mas das inquietações que ele produz em mim como estudante de Letras, como amante de literatura e, principalmente, como futuro professor. A ideia aqui é ir além do processo de seleção.

Que fique claro: a alegação dos alunos é legítima. Eles cobram da universidade coerência com relação ao que foi proposto no edital da prova e que, sabe-se, orienta sim o processo de preparação dos alunos, ainda que este não seja o objetivo da instituição (a julgar pela justificativa dada ao indeferimento dos recursos recebidos)*. Ou seja, o justo seria cancelar a prova e reaplicá-la com questões que estejam em concordância com o edital. Para o próximo PISM, há duas opções para evitar problema semelhante: mudar o edital ou mudar o método de ensino das escolas de Ensino Médio e dos cursinhos pré-vestibulares (o que acho difícil).

Aí chego a um ponto que me parece nevrálgico e que me chama a atenção há algum tempo. Em 2010, em um artigo escrito em parceria com uma professora argentina, reivindicávamos um espaço autônomo e próprio para a Literatura nas escolas de nossos dois países. Apesar de alguns problemas de escrita e conceituais que me tem feito pensar em uma ampliação e reescritura do artigo, ali estão contidas algumas ideias interessantes. Vejamos:

[a] Apontávamos para a indeterminação da Literatura como objeto de ensino particular provocada pela recomposição dos currículos escolares nos anos 90. Os novos currículos "integraram" as aulas de gramática e literatura (até então mais ou menos autônomas) às aulas de Língua Portuguesa com vistas ao desenvolvimento da competência comunicativa total dos alunos, mas não levou em conta o aspecto metodológico relativo à transposição didática do aparato crítico necessário para abordar uma obra literária fora de uma aula específica que se debruçasse sobre o assunto.

[b] Assinalávamos ainda que a inclusão do texto literário no rol de gêneros textuais em circulação na sociedade abriu espaço para sua abordagem em termos unicamente estruturais (narrador, personagens, tempo, espaço, características de época, etc.) e, até mesmo, para seu menosprezo quando os professores decidem focalizar gêneros textuais mais "úteis". Além disso, essa proposição tende a diminuir as chances de apresentar o texto literário como objeto estético, com todas as implicações que essa outra classificação traz consigo.

Creio que estes dois pontos ajudam a visualizar uma parte do problema. Pelo menos aquela que, na minha avaliação, é a mais preocupante: qual o lugar da Literatura na escola? Como aluno de escolas públicas estaduais durante o Ensino Fundamental, poucas vezes vi professores incentivarem a leitura de textos literários como parte de um projeto pedagógico. Quando isso ocorreu, foi uma atitude incidental, individual  e isolada de alguns profissionais. Por sorte, algumas das professoras que faziam isso cruzaram meu caminho. 

Já durante o Ensino Médio, que cursei no antigo CTU (que não é um cursinho pré-vestibular, diga-se passagem), as obras indicadas para leitura foram, desde sempre, aquelas que a UFJF selecionava para o PISM, independente do módulo (I, II ou III). Dizendo de outro modo, em minha trajetória estudantil pude observar duas coisas: ou a aula de Literatura simplesmente não existiu (ou ainda não existe) ou ela existiu (e ainda existe) apenas para responder a uma exigência que acenava (e ainda acena) ao final da nossa trajetória escolar - os processos seletivos para ingressar no Ensino Superior. 

Que ninguém se engane. Frente a esse panorama o texto literário não aparece na sala de aula como objeto estético e, como consequência óbvia, não é tratado como tal. Outro ponto: as aulas de Literatura tampouco tem funcionado como aulas para formação de leitores (aqueles que, pela prática constante, poderiam desenvolver habilidades e competências para abordar textos literários). Vamos e venhamos: obrigar o aluno a ler para fazer uma prova já tem se mostrado como estratégia pouco eficiente de incentivo à leitura e, mais que isso, de capacitação à análise de obras literárias.

Volto ao artigo de 2010. Além de questionar o (não-)lugar da Literatura, apontávamos também alguns problemas práticos que se apresentam durante o trabalho com obras literárias quando são consideradas como gêneros textuais de maneira muito rasa. Dizíamos que os alunos confundem textos e obras literárias, além de serem expostos apenas a fragmentos destas últimas, quase sempre selecionados pelos autores de livros didáticos e apresentados deslocados de sua totalidade apenas para ilustrar um gênero a mais que circula na sociedade. Inclusive, pode-se questionar se os alunos estão tendo acesso a uma obra literária ou a um meta-texto, a um discurso reportado (e manipulado), que visa direcionar/treinar seu processo de leitura. 

Qualquer semelhança com apostilas de cursinhos, que usam à exaustão a citação de "fragmentos-chave" e listas com elementos fundamentais (narrador, personagens, tempo, espaço, características de época, etc.) para a "compreensão" da obra não é mera coincidência. Que fique claro: não estou criticando os cursinhos como instituições, estou apenas focalizando práticas de ensino de Literatura e me valendo de exemplos práticos que qualquer olhada rápida nos materiais dos alunos irão confirmar como sendo ao menos verossímeis. 

Temos aqui um ponto complicado. Se as escolas públicas regulares de Ensino Fundamental não trabalham a Literatura ou a trabalham de modo não autônomo, sem abordar seu repertório crítico particular e se as  escolas públicas regulares de Ensino Médio mantém igual postura ou atrelam o conteúdo ao processo de seleção dos cursos superiores, as possibilidades de ensino da disciplina são poucas ou pequenas ou inexistentes. Eu me arrisco a dizer que ao vincular as indicações de leitura aos PISM, PASES (processo seriado da UFV) e demais concursos da vida, as escolas públicas estão igualando-se aos cursinhos que, a contragosto e contraditoriamente, me vejo na posição de reconhecer como sendo um dos poucos lugares em que a Literatura constitui um objeto de ensino à parte, apesar de trabalhada com equívocos. Para encerar o texto, aponto dois equívocos que me chamam a atenção. De novo vale ressalvar: não o faço com pretensão de ser lido ou de apresentar solução ao problema que motivou a redação do artigo.

* Equívoco grave: dentro do quadro que tracei com linhas grosseiras, ignora-se que a obra literária é um objeto estético e, assim, um artefato cultural. Cito do já mencionado artigo (em espanhol): La obra literaria es un objeto estético creado en el marco de la cultura y se inscribe en un diálogo con todo lo que produjo la especie humana a lo largo de su presencia en la Tierra. Es una forma de arte y el arte es una respuesta de los hombres al mundo que les cerca; es una manera de otorgar sentido y valor simbólico a los hechos cotidianos. Ou seja, ler literatura dentro de outra perspectiva é que poderá permitir aos alunos desenvolver habilidades e competências para construir significados não apenas para o texto, mas com o texto, levando adiante um processo de reflexão que redimensione sua própria vida e seu estar no mundo.
 
* Equívoco problemático, perigoso e até ingênuo: o fato de professores universitários de Língua Portuguesa e Literatura, formadores de futuros professores, desconhecerem como se dá o processo de ensino da Literatura nas escolas, se e quando ele existe. Tenho a impressão de que é problemático, perigoso e até ingênuo acreditar que esse ensino acontece "da mesma maneira" que nas salas de aula da universidade e, mais, acreditar que existem "competências [sendo] cumulativamente construídas" quando recebem a cada semestre alunos cada vez "menos preparados", que sempre contribuem com problemas novos para seu trabalho docente. 

(Okay, imagino que eu já devia ter parado de escrever porque com este último parágrafo, escrito por si mesmo, no fluxo da linguagem, compro briga desnecessária com pessoas que conheço e ainda vejo nos corredores da faculdade em dias de aulas).

* Apenas para esclarecer aos leitores que não são de Juiz de Fora, reproduzo o trecho da notícia divulgada na imprensa local: 

"o aluno não deve ser 'treinado' para ler textos e/ou autores específicos, mas sim saber ler - em outras palavras, interagir, construir significação - qualquer texto de literatura." O documento aponta ainda que "as questões da prova não fogem aos programas porque o foco não foi cobrar conteúdos específicos previamente designados como pré-requisito para a sua execução. Ao contrário, as questões têm como prerrogativa exclusiva a avaliação da capacidade do candidato lidar com textos de apelo estético, averiguando justamente a aquisição e consolidação dessas habilidades. Para tal, foram apresentados aos candidatos textos diante dos quais eles pudessem demonstrar o seu grau de aquisição e consolidação dessas habilidades e competências previstas e cumulativamente construídas ao longo das três séries do ensino médio." http://www.tribunademinas.com.br/cidade/ufjf-indefere-pedido-de-anulac-o-de-provas-de-literatura-do-pism-iii-1.1220548