quinta-feira, 11 de abril de 2013

A respeito de duas apresentações musicais

Não tenho a pretensão de transformar o blog em um espaço de crítica de arte. Não tenho condições de assumir essa função, nesse momento da minha vida. Por um lado eu teria de frequentar muito mais shows, apresentações teatrais e lançamentos de livros do que hoje e, embora possa ser positiva, não é uma prática que eu deseje de todo. Por outro, me faltam conhecimentos técnicos suficientes para comentar música ou jogo de cena com a mesma (relativa) desenvoltura com que falo de literatura, que é minha área de interesse e, por isso mesmo, de estudos.

É como eu escrevi em um comentário no Facebook: "Eu queria entender um pouquinho mais de música para poder fazer uma resenha decente". Diante da impossibilidade, resta a sensibilidade.

Depois dessa introdução imensa (e talvez truncada e desnecessária) vou entrar no assunto que me levou a escrever. Nos últimos dois dias assisti, com alguns amigos, a duas apresentações musicais dadas a público em Juiz de Fora. A primeira foi um show de Joãozinho da Percussão, realizado em 09/04, no Teatro Pró-Música/UFJF.

Joãozinho da Percussão e banda. Foto: Junior Felipe, meu amigo.
Com entrada franca, o show foi relativamente concorrido. Havia assentos vazios no teatro, mas não tantos como costuma ocorrer em apresentações de música erudita. Em contrapartida, não havia a obrigatoriedade de entregar o "convite individual" na entrada, o tipo da "quebra de protocolo" que ajuda a dessacralizar o espaço de circulação da arte [1]. 

Comemorando 60 anos de carreira, Joãozinho e a banda que o acompanhava esbanjaram ritmo, com direito a uma pequena sessão de sapateado que me deixou fascinado. Uma coisa linda e imprevista, ele lá, tirando sons maravilhosos das madeiras do piso do palco. Além, claro, dos instrumentos todos, tocados mesmo quando uma criança pequena foi levada ao palco e tentava mexer naquelas "coisas" tão curiosas aos seus olhos infantis.

No variado repertório, músicas do grupo juiz-forano Lúdica Música e de compositores velhos conhecidos do público como Benito de Paula (Retalhos de Cetim), Tom Jobim (Chega de Saudade, aliás, música-título da apresentação), Tim Maia (Você e eu, eu e você, melhor número do show com solos de todos os instrumentos) e Jorge Ben Jor (Natal brasileiro e Mas que nada, tocada no bis), entre outros.

E ontem, 10/04, no mesmo teatro, no mesmo horário das 20h e na mesma condição de entrada gratuita, a pianista carioca Vera Astrachan apresentou peças de Haydn, Beethoven, Brahms, Prokofieff e Heitor Villa-Lobos (a saborosa "A maré encheu", executada no bis). 

Com um público bem mais escasso (50 pessoas? 60?), mas em contexto mais formal - exigiam-se os convites individuais na entrada -, o teatro encheu-se com o som do piano, tocado com a maestria que o currículo da pianista deixa entrever já na leitura do programa. Não deixei de notar (alertado por um amigo) o esforço que certas passagens exigiam, as mesmas que levaram a uma entrega total da intérprete, que envolvia todo seu corpo na execução.

Foto (de longe) de Vera Astrachan tocando piano. Tirada por mim mesmo
Em resumo, foram duas apresentações de muito bom gosto e representaram duas oportunidades de entretenimento cultural gratuito em Juiz de Fora. E que bom que temos a oportunidade de contar com iniciativas dessa natureza. 

Se tenho uma crítica a fazer, esta recai sobre a organização dos eventos que peca (e não de hoje) na divulgação. Vide reflexo na escassez do público. Mais que isso, a organização peca em deixar coincidir, em um mesmo dia, eventos musicais destinados ao mesmo público. Isto vem à guisa de comentário e o explico: é que também ontem, às 20h, estava programada uma apresentação do pianista Adriano Tavares no Museu de Arte Moderna Murilo Mendes (Mamm). Eu me pergunto se não houve, em algum momento, a possibilidade de remarcar um dos dois eventos para desfazer a coincidência, mas isso realmente não tem uma resposta. Pelo menos, não uma que eu possa dar.

Nota única:

[1]Talvez por trás de tudo isso esteja a ideia de que a música popular permite um certo "relaxo". Não sei. O que sei é que qualquer forma de arte deveria valer a pena e o povo de Juiz de Fora deveria ser informado da realização desses eventos e se sentir à vontade para participar tanto do show popular quanto do erudito. Sem traumas, sem neuras.

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