quarta-feira, 8 de maio de 2013

O travo amargo do silêncio (ficção) (trecho)

Depois de esperar por três dias, cuja duração foi despistada por conversas sobre o tempo, nascimentos de parentes, mortes de artistas, doenças e outros assuntos de menor importância, depois de três dias, ele finalmente foi admitido à sala do chefe.

Ele, que até então queria entrar lá por iniciativa própria, tinha recebido um chamado. A razão, desconhecia. Sabia apenas de suas razões, de seu desejo de liberdade, sua vontade de não ficar como Carlitos, apertando parafusos toda a vida naquele lugar. As palavras todas iam se avolumando dentro dele, à espera daquele momento em que, expelidas, forçariam a libertação.

No entanto, ele soube a razão do chamado. Era tão inútil quanto as conversas dos dias anteriores (ou mais). O espanto, em lugar de fazer sair o tropel de palavras libertadoras, trancou-as sob um pesado silêncio de consternação. Com raiva de si mesmo, voltou a apertar seus parafusos, à espera de outra (melhor) ocasião.

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