Comento com algum atraso a polêmica que envolve o livro "Caçadas de Pedrinho" (capa ao lado), do escritor paulista Monteiro Lobato. Desde o final de outubro, o Conselho Nacional de Educação (CNE) proibiu a circulação do livro em escolas sob a alegação de que seu conteúdo incita ao racismo.
No último dia 04/11 (mas eu só li hoje) a Academia Brasileira de Letras convocou uma reunião para discutir o tema e a posição dos membros da instituição foi de rechaçar tal proposta. Como se pode ler no site da Academia, "a Casa manifestou repúdio contra qualquer forma de veto ou censura à criação artística" e declarou também que “cabe aos professores orientar os alunos no desenvolvimento de uma leitura crítica."
A mim o que parece chocante é a mudança dramática de discurso das pessoas que coordenam a educação neste país. Senão vejamos: quando descobriram o pré-sal, louvaram o autor pela sua luta em prol da exploração do petróleo. E Lobato também foi louvado quando, nos EUA, elegeram Barack Obama e todas as pessoas fizeram referência ao livro intitulado "O presidente negro ou o Choque das raças".
Agora que essas coisas já se converteram em notícia velha, decidiram que o autor não é mais digno de louvores e então aplicam uma leitura anacrônica e com pretensão de ser politicamente correta a um livro que ele escreveu. Como se Lobato fosse o culpado por toda a discriminação que existe no Brasil.
E o cúmulo do absurdo: post-mortem o autor precisa de defesa da ABL, Casa onde ele se recusou a entrar porque não fazia seu estilo estar sentado discutindo coisas. Lobato queria fazer coisas. E as fez muito bem. Eu tenho só 24 anos, mas os livros dele também fizeram parte da minha formação e em nenhum momento me senti discriminado em minha condição de afro-descendente pelo fato de Tia Nastácia ser negra e às vezes receber um tratamento "racista" por parte dos meninos, de Emília ou de Dona Benta. Para mim, isso tudo é conversa fiada.
Em tempo: a imagem que coloquei neste texto é da edição da Editora Brasiliense, que lamentavelmente já não detém os direitos de publicação. Me recuso a colocar a capa da edição atual (da Editora Globo) porque o que eles chamam de "novo projeto gráfico" é, na minha opinião, um assassinato à obra do autor.