Ontem, 02 de março, a Universidade Federal retornou às aulas. À parte o trote (para o qual já existe até taxa para abrandamento), os alunos do noturno não tiveram aulas.
Por conta, dizem, de um transformador que pegou fogo; a cidade inteira ficou às escuras. O problema é que naquele momento mesmo do apagão não sabiam-se as causas possíveis, não havia sequer sinal de chuva para culpar os raios. Aliás, as aulas sim é que foram para o "raio que os parta". Até porque era insustentável prosseguir conversando sobre o livro a ser adotado no semestre à luz de celulares e outras modernidades multiuso, que são até lanternas nessas horas dificultosas.
Uma vez liberados os alunos pela professora - desesperançada a respeito do retorno da energia - saí rumo ao centro da urbe. Até a metade do caminho pude contar com uma carona. Achei algo assustador dirigir por essas ruas escuras numa noite ampliada pelo caos e aturdimento. Mas, mais assustador ainda, foi me deslocar pelo tumulto das ruas.
Há algo de cruel nessa cegueira de olhos abertos, nessa visão apenas de vultos. Quer dizer, cada um de nós era também um vulto na multidão. E éramos vultos que precisavam de um mínimo de cooperação para atravessar a rua em grupo, para ficar nos pontos de ônibus em grupo e para passar por degraus e escadas sem atropelos, desviar-se de buracos... Mas, conseguimos, mesmo com o orgulho e a rapidez e a estupidez de nossos dias reencontrar uma certa gentileza perdida.
Claro, houve também o lado desesperador da história, que foi vivido pelas pessoas que estavam em elevadores no momento do blecaute. E também nas fábricas, que tiveram de parar (e até perder) a produção num contexto de crise internacional que, certamente, dará ensejo a novas e maiores demissões que serão creditadas a essa repentina escuridão.
Ao fim de uma hora de total breu, as luzes pouco a pouco voltaram. Ouviam-se gritos de comemoração pelas ruas. Eu vejo apenas um motivo de comemoração e ele é um pouco menos luminoso: o ser humano pode ser que ainda tenha salvação.
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