Escrevo este texto em atenção ao comentário que recebi da Helena em relação ao último post deste blog. Ela declara que "Gostaria de entender essa fascinação que tantos brasileiros têem por Clarice. No contexto de adoração que muitos constroem ao redor de seus escritos, fico até com medo de falar o que realmente penso sem antes estar calcada em forte base argumentativa."
A questão, pelo menos desde onde a vejo, tem muito que ver com modismo e publicidade. Clarice, lamentavelmente, está na moda. E com isso quero dizer que muita gente lê seus livros e os comenta sem estar calcado nessa "forte base argumentativa". Lê porque o livro aparece na novela das oito.
A própria Clarice muitas vezes declarou que seus textos não podiam ser compreendidos a partir de uma mirada intelectual. Gostar deles, para ela, era uma questão de toque. Ou seja, de sentir-se tocado pelo texto.
Daí que, partindo de uma premissa estética, isto é, encarando a leitura de textos literários como uma atividade de fruição estética, de toque, é muito pertinente não ler Clarice se os textos dela não lhe tocam de alguma maneira. Por isso, como diz Helena, "Já de outras autoras e autores brasileiros que não estão na moda, como você mesmo disse, li textos que me deixaram com esta sensação, ou seja, por algum tempo no ar."
Por isso, destaco, por exemplo, um poema de Cecília Meireles que simplesmente me encanta e que não forma parte do corpus estudado nas escolas, onde todos acreditam que a autora só escreveu os poemas de "Ou isto ou aquilo":
A questão, pelo menos desde onde a vejo, tem muito que ver com modismo e publicidade. Clarice, lamentavelmente, está na moda. E com isso quero dizer que muita gente lê seus livros e os comenta sem estar calcado nessa "forte base argumentativa". Lê porque o livro aparece na novela das oito.
A própria Clarice muitas vezes declarou que seus textos não podiam ser compreendidos a partir de uma mirada intelectual. Gostar deles, para ela, era uma questão de toque. Ou seja, de sentir-se tocado pelo texto.
Daí que, partindo de uma premissa estética, isto é, encarando a leitura de textos literários como uma atividade de fruição estética, de toque, é muito pertinente não ler Clarice se os textos dela não lhe tocam de alguma maneira. Por isso, como diz Helena, "Já de outras autoras e autores brasileiros que não estão na moda, como você mesmo disse, li textos que me deixaram com esta sensação, ou seja, por algum tempo no ar."
Por isso, destaco, por exemplo, um poema de Cecília Meireles que simplesmente me encanta e que não forma parte do corpus estudado nas escolas, onde todos acreditam que a autora só escreveu os poemas de "Ou isto ou aquilo":
Humildade
Tanto que fazer !
Livros que não se lêem, cartas que não se escrevem,
línguas que não se aprendem,
amor que não se dá,
tudo quanto se esquece.
Amigos entre adeuses,
crianças chorando na tempestade,
cidadãos assinando papéis, papéis, papéis...
até o fim do mundo assinando papéis.
E os pássaros detrás de grades de chuvas,
e os mortos em redôma de cânfora.
(E uma canção tão bela!)
Tanto que fazer!
E fizemos apenas isto.
E nunca soubemos quem éramos,
nem para quê.
Para finalizar: que cada um leia e considere "boa literatura" aquilo que mais lhe apraz e que se permita percorrer as estantes de bibliotecas e livrarias com um olhar atento e sempre disposto a encontrar alguma surpresa. Helena, muito obrigado pelo comentário. Um abraço.
E esse seu texto ficou também ótimo, independente de ser uma resposta para mim. Gostei muito! :-) Muito obrigada. E vamos ler! Ler o que nos cai às mãos, ler com prazer, para ter e dar prazer, enfim: ler para crescer, escrever, viver bem e cada vez melhor! Um abraço fraterno :-)
ResponderExcluirAilton, vim zapeado pelo blog da Helena e acabei gostanto. É uma questão extensa demais. A competitividade escessiva que nos domina a quase todos, não permite que se faça crítica a quem quer que seja que tenha caido no gosto popular. Fazer uma crítica ácida, por exemplo ao Paulo Coelho, no mínimo vai ser considerado coisa de invejoso, de fracassado. É só o que se tem para argumentar nas bocas quase unânimes. Do mesmo modo, é o caso de se falar muito bem de um conhecido. Se ele não entrar no circuito comercial e tiver uma sólida mídia que lhe sustente, continuará como um ilustre desconhecido. As coisas são, infelizmente, tratadas em termos de "sucesso e fracasso". Gostei de sua abrodagem. abraços. Paz e bem.
ResponderExcluirOlá, Cacá.
ResponderExcluirObrigado pela visita!
Sim, lamentavelmente estamos à mercê da competiçao mercadológica e sem muito espaço para debater idéias... apesar de que os blogs e outras virtualidades nos permitem ventilar um pouco!
Abraços!