sábado, 17 de agosto de 2013

Clarice Lispector me ajudando (de novo) (como sempre)

Como, em geral, me atraso para publicar textos aqui no blog, na Revista Encontro Literário e em outros blogs e sites de que participo na internet, mesmo os habitués deste "meu" espaço virtual pode ser que não estranhem meu silêncio, ainda que ele esteja se prolongando além do que eu próprio gostaria.

Estava buscando a melhor forma de me expressar a esse respeito e de novo (e como sempre) fui ajudado por Clarice Lispector nessa tarefa de dar sentido e organizar parte do meu caos cotidiano, repartindo em pedaços a carne imensa e única que prenunciaria a loucura. Pinço aqui algumas falas de sua já famosa entrevista:

Sobre a escrita, ela diz que "tem períodos de produzir intensamente e tem períodos, hiatos, em que a vida fica intolerável". Não diria que estou vegetando nem que a vida se me faz intolerável pela impossibilidade da escrita. Essa impossibilidade é, contudo, uma conta a mais no rosário de "senões" cotidianos que deságuam no silêncio grande atual, o qual a escrita poderia ao menos tentar quebrar.

Crianças x Adultos: ao ser questionada sobre se seria mais fácil se comunicar com crianças ou com adultos, Clarice diz, no decurso da resposta, que o adulto é triste e solitário, ao passo que a criança tem a fantasia solta. Instada a explicar a partir de qual momento a tristeza e a solidão se instalam, ela se esquiva: "Isso é segredo. Desculpe, mas eu não vou responder... a qualquer momento da vida. Basta um choque um pouco inesperado e isso acontece."

Para finalizar esse texto (na realidade uma transcrição, com cortes, da entrevista) destaco uma fala que não exatamente sei como interpretar. Diz Clarice: "mas eu não sou solitária não... tenho muitos amigos. E só estou triste hoje porque estou cansada.

Essa é uma de minhas frases favoritas. Ainda que me faltassem amigos (o que, por sorte, não é verdade), poderia alegar o cansaço como causa da minha tristeza ou do "silêncio grande atual", como queiram chamar isto, e, mesmo que seja uma explicação improvisada, talvez ela seja a mais próxima da verdade neste momento. Abaixo um link para o trecho do vídeo do qual retirei essas citações.

http://youtu.be/9ad7b6kqyok?t=6m10s

2 comentários:

  1. "Eu sou a mosca que chegou para lhe abusar" ou alegrar, como queira. Entendo que há uma distinção entre ser ou querer estar solitário. Eu tenho amigos e não abro mão da minha solidão, necessária para o meu equilíbrio. Podemos estar sós ao mesmo tempo que rodeado de amigos ou não nos sentirmos sozinhos quando estamos sós, num espaço, sem ninguém mais no plano físico e palpável que rodeia cada um de nós. Penso que devemos respeitar as fases, os hiatos, os silêncios, as transformações. Deixo aqui o link para uma prosa poética que escrevi num destes momentos: De a sentir... Abraços! http://bluemaedel.blogspot.de/2012/12/de-sentir.html

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    1. Helena, bom dia! Prefiro que a mosca chegue para alegrar :) Suas considerações são interessantes pois realmente não devemos pensar na solidão como algo sempre negativo, sobretudo se temos a oportunidade de valermos-nos dos momentos de recolhimento para alcançar esse equilíbrio de que você fala.

      Na medida do possível, tento respeitar as fases, hiatos, silêncios e transformações da minha vida. Mas às vezes tenho a tentação de escrever a respeito (claro, nem tudo que escrevo vem a público). No caso deste texto, eu quis apenas externar algumas inquietações ante não só o que me acontece como também ante a "impossibilidade" de falar sobre essas inquietações. De qualquer forma, algo consegui escrever e estou escrevendo agora. Obrigado pela leitura atenta e pela dica de leitura. Abraços!!!

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