quinta-feira, 18 de abril de 2013

Relendo/refazendo este blog

Houve um tempo em que eu criei um marcador chamado "Sobre a arte de blogar e outras artes", mas, como outros, ele já desapareceu deste meu espaço virtual. Por um lado, não fui particularmente feliz com a metalinguagem; por outro, não consegui organizar adequadamente minhas impressões a respeito do meu modus operandi como blogueiro (que não sou).

Uma coisa é certa, porém: o caráter amorfo deste blog. Isso aqui não é um diário (ainda que tenha postagens mais pessoais ou circunstanciais), não é um espaço de críticas (ainda que albergue alguns gritos mudos de indignação por coisas que, lidas hoje, soam velhas ou fora de contexto), não é um espaço de notas soltas (embora receba trechos de coisas que estou produzindo ou comentários esparsos sobre assuntos diversos). Ultimamente, ele tem funcionado muitas vezes como espaço de divulgação da minha pouca e má produção literária. Penso que o título do blog (Um eterno brain storm) e a nota explicativa abaixo deste deveriam dar conta da multiplicidade de coisas que coloco aqui, mas, relendo, ainda tenho dúvidas a respeito.

Apesar de todas as limitações ou incompreensões postadas acima, faço poucas alterações no conjunto da obra. Postagens houve (poucas, pouquíssimas) que eu excluí do blog. Alguns marcadores eu excluí também. Há alguns dias, decidi pela extinção do marcador "sustos". Era vago e impreciso e abarcava, no geral, questões da vida universitária que foram postadas com um olhar muito mais intolerante do que aquele que tenho hoje. Talvez até por já estar formado. Entre apagar as postagens ou reenquadrá-las na categoria de Comentários gerais, optei por esta última opção.

Num blog pouco lido e pouco comentado, talvez essas mudanças passassem (e passam) desapercebidas, mas preferi escrever um texto (bastante grande, por sinal) para falar disso. Talvez (me) ajude a entender.

quarta-feira, 17 de abril de 2013

Sobre dois filmes assistidos em 05/03/2013

Não pretendo fazer deste blog um espaço de crítica de arte. Disse isso em minha última postagem, mas repito para não deixar margem a dúvidas. Se tenho escrito sobre esses assuntos é porque ou me vejo na obrigação de organizar minhas vivências através da linguagem ou, como é o caso do texto de hoje, me vejo na obrigação de manter o blog minimamente atualizado (o que, sabe-se, não consigo de todo).

Para manter um ritmo de publicação, tenho resgatado alguns textos antigos e até e-mails. Hoje, optei por resgatar duas indicações de filmes já fora de cartaz que assisti há algum tempo e que comentei em frases curtas, via Facebook. Basicamente, reproduzo aqui o que está lá. E, claro, me repito e me denuncio. Mas o faço antes que algum leitor queira apontar a repetição e acusar-me de agir de má-fé. Vamos às notas:

[1] Sugiro aos amigos que vejam O som ao redor (Brasil, 2012, 131 min). A despeito das muitas histórias paralelas (recurso nem sempre apreciado), a película é particularmente feliz ao pintar um retrato do brasileiro atual com suas neuras, vícios, taras&manias, impulsos consumistas e relações de compadrio e/ou indiferença. Claro: tudo isso com muito som ao redor dessas cenas da vida "comum".





[2] Outro filme que recomendo é César deve morrer (Itália, 2012, 76 min). Para aqueles que acreditam na Arte com fervor (como eu), é uma excelente profissão de fé. Aliás, serve de exemplo também para as autoridades repensarem a função e o funcionamento dos espaços prisionais. Sugiro a quem assistir que dê especial atenção às cenas em que, recitando Shakespeare, os presos são colocados em posição de revisitar suas próprias histórias.



segunda-feira, 15 de abril de 2013

A angústia apaziguada

Houve dias de angústias renovadas. Houve. Eram aqueles dias em que a esperança se debatia e era ela quem fazia de cada revés, recaída ou contratempo angústias renovadas - algumas delas exorcizadas em forma de poesia.

Hoje vê-se a história repetida: parenta internada. Hospital, horário de visita. Nos boletins médicos, sobressaltos que não são novos. Novo é o fato de a esperança estar fugidia, assim como as angústias que não se renovam como naqueles dias idos. Algo se partiu dentro de mim: conformei-me com a ideia da perda ou foi a angústia, por si mesma, que perdeu o seu sentido?

quinta-feira, 11 de abril de 2013

A respeito de duas apresentações musicais

Não tenho a pretensão de transformar o blog em um espaço de crítica de arte. Não tenho condições de assumir essa função, nesse momento da minha vida. Por um lado eu teria de frequentar muito mais shows, apresentações teatrais e lançamentos de livros do que hoje e, embora possa ser positiva, não é uma prática que eu deseje de todo. Por outro, me faltam conhecimentos técnicos suficientes para comentar música ou jogo de cena com a mesma (relativa) desenvoltura com que falo de literatura, que é minha área de interesse e, por isso mesmo, de estudos.

É como eu escrevi em um comentário no Facebook: "Eu queria entender um pouquinho mais de música para poder fazer uma resenha decente". Diante da impossibilidade, resta a sensibilidade.

Depois dessa introdução imensa (e talvez truncada e desnecessária) vou entrar no assunto que me levou a escrever. Nos últimos dois dias assisti, com alguns amigos, a duas apresentações musicais dadas a público em Juiz de Fora. A primeira foi um show de Joãozinho da Percussão, realizado em 09/04, no Teatro Pró-Música/UFJF.

Joãozinho da Percussão e banda. Foto: Junior Felipe, meu amigo.
Com entrada franca, o show foi relativamente concorrido. Havia assentos vazios no teatro, mas não tantos como costuma ocorrer em apresentações de música erudita. Em contrapartida, não havia a obrigatoriedade de entregar o "convite individual" na entrada, o tipo da "quebra de protocolo" que ajuda a dessacralizar o espaço de circulação da arte [1]. 

Comemorando 60 anos de carreira, Joãozinho e a banda que o acompanhava esbanjaram ritmo, com direito a uma pequena sessão de sapateado que me deixou fascinado. Uma coisa linda e imprevista, ele lá, tirando sons maravilhosos das madeiras do piso do palco. Além, claro, dos instrumentos todos, tocados mesmo quando uma criança pequena foi levada ao palco e tentava mexer naquelas "coisas" tão curiosas aos seus olhos infantis.

No variado repertório, músicas do grupo juiz-forano Lúdica Música e de compositores velhos conhecidos do público como Benito de Paula (Retalhos de Cetim), Tom Jobim (Chega de Saudade, aliás, música-título da apresentação), Tim Maia (Você e eu, eu e você, melhor número do show com solos de todos os instrumentos) e Jorge Ben Jor (Natal brasileiro e Mas que nada, tocada no bis), entre outros.

E ontem, 10/04, no mesmo teatro, no mesmo horário das 20h e na mesma condição de entrada gratuita, a pianista carioca Vera Astrachan apresentou peças de Haydn, Beethoven, Brahms, Prokofieff e Heitor Villa-Lobos (a saborosa "A maré encheu", executada no bis). 

Com um público bem mais escasso (50 pessoas? 60?), mas em contexto mais formal - exigiam-se os convites individuais na entrada -, o teatro encheu-se com o som do piano, tocado com a maestria que o currículo da pianista deixa entrever já na leitura do programa. Não deixei de notar (alertado por um amigo) o esforço que certas passagens exigiam, as mesmas que levaram a uma entrega total da intérprete, que envolvia todo seu corpo na execução.

Foto (de longe) de Vera Astrachan tocando piano. Tirada por mim mesmo
Em resumo, foram duas apresentações de muito bom gosto e representaram duas oportunidades de entretenimento cultural gratuito em Juiz de Fora. E que bom que temos a oportunidade de contar com iniciativas dessa natureza. 

Se tenho uma crítica a fazer, esta recai sobre a organização dos eventos que peca (e não de hoje) na divulgação. Vide reflexo na escassez do público. Mais que isso, a organização peca em deixar coincidir, em um mesmo dia, eventos musicais destinados ao mesmo público. Isto vem à guisa de comentário e o explico: é que também ontem, às 20h, estava programada uma apresentação do pianista Adriano Tavares no Museu de Arte Moderna Murilo Mendes (Mamm). Eu me pergunto se não houve, em algum momento, a possibilidade de remarcar um dos dois eventos para desfazer a coincidência, mas isso realmente não tem uma resposta. Pelo menos, não uma que eu possa dar.

Nota única:

[1]Talvez por trás de tudo isso esteja a ideia de que a música popular permite um certo "relaxo". Não sei. O que sei é que qualquer forma de arte deveria valer a pena e o povo de Juiz de Fora deveria ser informado da realização desses eventos e se sentir à vontade para participar tanto do show popular quanto do erudito. Sem traumas, sem neuras.